sexta-feira, 8 de julho de 2011

A favor da vaia justa *‏

Como sapatão e base desse movimento, trago alguns questionamentos, sabendo que não terei respostas da ABGLT e que muito menos meu e-mail será compartilhado nas listas LGBT desse país. De repente, o ENUDS de Salvador seja um bom momento para discutirmos essas questões. Decisão do STF, suspensão do kit, Marchas para Jesus, "Carta ao povo de Deus" (por que não?), PLC 122/06 e etc.

1. A vaia.
 
Ao que me parece, a vaia não é ao governo Dilma e sim à atitude de suspender o kit do programa Escola sem Homofobia e à forma como foi anunciada essa suspensão, com a presidenta Dilma afirmando que seu governo não fará "propaganda de opções sexuais". Vaiar essa atitude da presidenta é mais do que justo, oras. Afinal, movimento social tem autonomia frente a governos, ou não? E se esse governo for mesmo aliado é mais um motivo para vaiarmos a atitude da presidenta. Se o governo é aliado deve favorecer a luta LGBT e não engessá-la. Ficar aprisionado na definição "o governo é nosso aliado" e perder a capacidade de questionar as ações conservadoras desse governo, que sabemos que não é homogêneo, significa perder a autonomia do movimento. Se o governo é aliado, o movimento é forte, crítico e autônomo. Se o governo é inimigo faz de tudo para imobilizar e impedir as possíveis ações do movimento. Como todos sabem, este governo não é homogêneo em sua composição, existem aliados das LGBT e inimigos em sua base. Qualquer afirmação do governo como aliado ou inimigo me parece abstrata e só contribui para a perda da criticidade e autonomia do movimento. E daí decorrem dois erros graves: (1) o imobilismo, pois com aliado não se bate de frente, se dialoga e se "resolve"; (2) o oposicionismo, que só enxerga as derrotas que servem para "provar" que o governo é inimigo e, para isso, tira do campo de visão as conquistas desse período. Qualquer semelhança com o conhecido equívoco do "esquerdismo", que Lenin já apontava uns quase 100 anos atrás, não é mera coincidência.

2. O artigo do Toni Reis.
 
Esse artigo da ABGLT mais parece artigo do governo. E se assim o fosse estaria ótimo, mostraria que o governo está querendo se redimir com o movimento LGBT, o que não é o caso. Quem deve afirmar que o governo é aliado da luta LGBT é o governo e não a ABGLT. No período de campanha, Dilma não soltou a "Carta ao povo de Deus"? Que solte agora a carta à população LGBT, se comprometendo a aprovar a criminalização da homofobia, a aprovar o material educativo que ajudará a combater a homofobia nas escolas e etc. Aí sim estarei convencida de que a Dilma é aliada. Classe não é, classe se faz no processo de luta. É na prática que a gente vê quem é aliado e quem é inimigo.

Todo o meu apoio às vaias justas!

Texto de Mariana Oliveira (Comunista, feminista e sapatão.)
 
* O título do e-mail é inspirado numa poesia do Mauro Iasi "A favor da raiva justa", que fala sobre o ato das mulheres da Via Campesina na Aracruz Celulose uns anos atrás. Que a autonomia e radicalidade dos movimentos do campo sirvam de inspiração para nós.

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